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Urbanismo

Drenagem Urbana- parte 3

  1. Impactos na drenagem urbana

A política na drenagem urbana, que prioriza a simples transferência de escoamento, e a falta de controle da ocupação das áreas ribeirinhas têm produzido impactos significativos que são os seguintes:

  • aumento das vazões máximas (em até 7 vezes) devido à ampliação da capacidade de escoamento de condutos e canais, para comportar os acréscimos de vazão gerados pela impermeabilização das superfícies;
  • aumento da produção de sedimentos devido à desproteção das superfícies e a produção de resíduos sólidos (lixo);
  • deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea devido a lavagem das ruas, transporte de material sólido, contaminação de aquíferos e as ligações clandestinas de esgoto cloacal e pluvial;
  • danos materiais e humanos para a população que ocupa as áreas ribeirinhas sujeitas às inundações;
  • impactos que ocorrem devido à forma desorganizada como a infraestrutura urbana é implantada, podendo ser citadas: pontes e taludes de estradas que obstruem o escoamento; redução de seção do escoamento por aterros; deposição e obstrução de rios, canais e condutos por lixo e sedimentos; projetos e obras de drenagem inadequadas.

1.1 Impactos devido à urbanização

 

O desenvolvimento urbano modifica a cobertura vegetal, provocando vários efeitos que alteram os componentes do ciclo hidrológico natural. Com a urbanização, a cobertura da bacia é alterada para pavimentos impermeáveis e são introduzidos condutos para escoamento pluvial, gerando as seguintes modificações no referido ciclo:

  • Redução da infiltração no solo;
  • O volume que deixa de infiltrar fica na superfície, aumentando o escoamento superficial. Como foram construídos condutos para o esgotamento das águas pluviais, é reduzido o tempo de deslocamento com velocidades maiores. Desta forma, as vazões máximas também aumentam, antecipando seus picos no tempo;
  • Com a redução da infiltração, há uma redução do nível do lençol freático por falta de alimentação (principalmente quando a área urbana é muito extensa), reduzindo o escoamento subterrâneo. Em alguns casos, as redes de abastecimento de água e de esgotamento cloacal possuem vazamentos que podem alimentar os aquíferos, podendo levar à contaminação;
  • Devido a substituição da cobertura natural ocorre uma redução da evapotranspiração das folhagens e do solo, já que a superfície urbana não retém água como a cobertura vegetal.

1.2 Impacto Ambiental sobre o ecossistema aquático

 

Com o desenvolvimento urbano, vários elementos antrópicos são introduzidos na bacia hidrográfica e passam a atuar sobre o ambiente. Alguns dos principais problemas são os seguintes:

a. Aumento da Temperatura: As superfícies impermeáveis absorvem parte da energia solar, aumentando a temperatura ambiente, produzindo ilhas de calor nos centros urbanos, onde predomina o concreto e o asfalto. O asfalto, devido a sua cor, absorve mais energia que as superfícies naturais, e o concreto, à medida que a sua superfície envelhece, tende a escurecer e aumentar a absorção de radiação solar. O aumento da absorção de radiação solar por parte da superfície aumenta a emissão de radiação térmica de volta para o ambiente, gerando o calor. O aumento de temperatura também cria condições de movimento de ar ascendente que pode criar aumento de precipitação. Como na área urbana as precipitações críticas mais intensas são as de baixa duração, esta condição contribui para agravar as enchentes urbanas.

b. Aumento de Sedimentos e Material Sólido: Durante o desenvolvimento urbano, o aumento dos sedimentos produzidos na bacia hidrográfica é significativo, devido às construções, limpeza de terrenos para novos loteamentos, construção de ruas, avenidas e rodovias entre outras causas.

São consequências ambientais da produção de sedimentos:

  • assoreamento das seções da drenagem, com redução da capacidade de escoamento de condutos, rios e lagos urbanos.
  •  transporte de poluentes agregados ao sedimento, que contaminam as águas pluviais.

 À medida que a bacia é urbanizada, e a densificação consolidada, a produção de sedimentos pode reduzir, mas um outro problema aparece, que é a produção de lixo. O lixo obstrui ainda mais as redes de drenagem e cria condições ambientais ainda piores. Esse problema somente é minimizado com a adequada frequência da coleta, educação da população e multas pesadas.

c. Qualidade da Água Pluvial: A qualidade da água pluvial não é melhor que a do efluente de um tratamento secundário. A quantidade de material suspenso na drenagem pluvial é superior à encontrada no esgoto in natura, sendo que esse volume é mais significativo no início das enchentes.

d. Contaminação de aquíferos: As principais condições de contaminação dos aquíferos urbanos ocorrem devido aos seguintes fatos:

  •  Aterros sanitários contaminam as águas subterrâneas pelo processo natural de precipitação e infiltração. Portanto, deve-se evitar que sejam construídos aterros sanitários em áreas de recarga além de procurar escolher as áreas com baixa permeabilidade. Os efeitos da contaminação nas águas subterrâneas devem ser examinados quando é realizada a escolha do local do aterro;
  • Grande parte das cidades brasileiras utilizam fossas sépticas como destino final do esgoto. Esse efluente tende a contaminar a parte superior do aquífero. Esta contaminação pode comprometer o abastecimento de água urbana quando existe comunicação entre diferentes camadas dos aquíferos por percolação e de perfuração inadequada dos poços artesianos;
  • A rede de condutos de pluviais pode contaminar o solo por meio de perdas de volume no seu transporte e até por entupimento de trechos da rede que pressionam a água contaminada para fora do sistema de condutos.

Como em drenagem urbana, o impacto da urbanização é transferido para jusante, quem produz o impacto geralmente não é o mesmo que sofre o impacto. Portanto, para um disciplinamento do problema é necessário a interferência da ação pública pela regulamentação e pelo planejamento.

2. Indicações para minimizar os problemas da Drenagem Urbana

Para alterar essa tendência é necessário considerar o seguinte:

  • O aumento de vazão devido à urbanização não deve ser transferido para jusante;
  • Deve-se priorizar a recuperação da infiltração natural da bacia, visando a redução dos impactos ambientais;
  • A bacia hidrográfica deve ser o domínio físico de avaliação dos impactos resultantes de novos empreendimentos, visto que a água não respeita limites políticos;
  • O horizonte de avaliação deve contemplar futuras ocupações urbanas;
  • As áreas ribeirinhas somente poderão ser ocupadas a partir de um zoneamento que contemple as condições de enchentes;
  • As medidas de controle devem ser preferencialmente não-estruturais.

Importante! Os problemas causados pela drenagem pluvial são proporcionais à falta de investimentos nessa área.

 Bons Estudos!